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segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Domingão




Por Soul Sócrates Santana


O barulho dos ônibus. Uma calmaria de domingo. Em casa descanso o tédio de uma manhã inteira, uma tarde inteira. Aguardo uma noite que chega sem vontade, como se estivesse fazendo hora, deixando o tempo passar. Desligo a tevê e resolvo olhar pela janela. “O velho recurso da janela”, penso comigo mesmo ao escrever este trecho. É só citar a metáfora da janela que logo vem às coisas do mundo, o detalhe esquecido na tevê. A luminária da esquina ganha uma coloração amarelada, as calçadas uma ausência sentida, as árvores um vendaval usual, meu saco uma coçada mais preguiçosa. Tudo faz sentido e também possui um significado. Um domingo qualquer. Apesar da internet, que não funciona. Apesar do telefone, que não atendo. Apesar da tevê, que não me escuta. É domingo. Um dia criado para ser o primeiro, porque, começar é sempre mais difícil. Afinal de contas, no domingo a gente cura o porre de sábado, sem deixar de guardar um pedacinho para tirar um cochilo a mais, pois, ninguém é de ferro e a segunda-feira vem aí, batendo na porta. “Parem as máquinas”, teriam dito meus instintos fabris. De pouco importa. Durmo até tarde (metade da manhã), escovo os dentes, faço uma vitamina e volto para a cama. Acordo às três, remexo a despensa, frito uns ovos, bacon, macarrão, coca-cola, ligo a tevê, troco de canal, ouço o comentário carregado de sotaque do Neto, torço pelo Esporte Clube Bahia, mas, fico por dentro da escalação do Flamengo, Vasco, Palmeiras e, principalmente, do Corinthians, time do Neto. Todo mundo sabe, menos eu e toda a torcida do Baêa. A gente não fica por dentro de nada. Às vezes, tenho a impressão, de que o domingo em Salvador, ainda é mais domingo que nas demais capitais. Fora o futebol, e nós estamos de fora dele, domingo em Salvador é o tempo inteiro, porque, o único lazer que ainda temos é a praia. E só tem praia, leia-se sol, porque praia sem sol é como água no chope, entre outubro e fevereiro. E olhe lá. A prefeitura arrumou um jeito de esbagaçar com tudo e não restou uma única barraca para servir um chope, mesmo com água. Por fim, o que eu quero dizer é que hoje é domingo, estou eu aqui, sentado, neste domingo, escrevendo neste domingo, porque, eu não tenho mais o que fazer. Mas, não poderia ser de outro jeito. Afinal, se fosse de outro jeito, não seria domingo e eu teria mais o que fazer.